CRÔNICA - Carnaval: a festa “aplaudida” pelos Orixás

Texto: Babalorixá Flávio de Yansan


Fevereiro de 2012. Chegou a festa do “pode tudo”!
Tem raízes no culto à Dionísio, Deus da Grécia Antiga, Senhor do Vinho, que leva à embriaguez, e que por sua vez, traz a sensação de euforia, de liberdade e de coragem para afrontar o “proibido”.
Para os religiosos radicais é a festa pagã que louva o mau.
Mas, para milhões de brasileiros é a oportunidade de se exporem, com a mais pura sensação e expressão de liberdade.
Quatro ou Cinco dias para vivenciar o “irreal”, o irracional, a sexualidade, e liberar o que é o ser humano, “in natura”. Exatamente, como o Deus Dionísio entendia a humanidade.
São mais de 100 horas, onde nenhum código moral e nenhuma convenção social ou religiosa, mandam naqueles que se entregam de corpo e alma, à mais extravagante das festas populares.
Não são mais necessárias as Máscaras. Nestes dias, não há razão para se esconder.
Não há patrão e nem há horários. Não há compromissos. Não há políticos e nem magistrados.
Não há governos. Não há desigualdade social.
Só há cortes: as dos reis Momos e das Rainhas das baterias.
Católicos, evangélicos, budistas, umbandistas, candomblecistas, ateus, agnósticos, etc, se unem sob o comando de um único Deus, que abençoa a todos: o espírito da satisfação pessoal.

Mas, os Deuses Africanos assistem e acompanham a tudo! Participam colaborando com a “alegria”, pelo simples fato do carnaval ter raízes na cultura negra. O batuque e o samba vem dos negros escravizados e importados à força, da África.

Todos Eles abençoam o repicar das baterias, da mesma forma que dançam no repicar dos atabaques.

Orumilá permite que nestes dias, o destino dos homens seja único: experimentar a felicidade.
Exu incentiva a alegria, a irreverência, a descontração e faz referências aos “brincalhões” que já partiram.
Ogun abre os caminhos para as escolas de samba, os afoxés, os blocos e as multidões passarem.
Oxossi, nestes dias não caça, mas observa a festa, sempre com muita seriedade. Dizem que às vezes sorri e acha engraçado a conduta dos “homens” libertos de preconceitos e de medos. Permite que sejam feitos os tamborins, as cuícas e os repeniques com os couros de suas caças;
Ossain, com sua timidez, escondido nas matas, dá constantemente uma olhadinha oferecendo cura aos excessos. Doa as fibras para confecção de alguns enfeites carnavalescos.
Omolu previne para que nenhum mal atinja o corpo dos humanos, principalmente as drogas.
Oxumarê, ora traz o colorido do arco-íris para as fantasias e alegorias, ora traz a chuva para refrescar. Faz a mágica transformação acontecer: do real para o irreal.
Ibeije observa as crianças com muita atenção, para que elas não sejam vítimas dos adultos, nos momentos de muita euforia;
Iroko. Ah! O majestoso Iroko! Imóvel e soberbo observa e comenta a festa com os ancestrais;
De sua corte, Xangô manda a “majestade” para a festa;
Oyá incentiva a sensualidade de todos.
Oxum e Logun-edè emitem o poder da beleza, da elegância e do brilho.
Obá, não gosta de brincadeiras, mas doa aos homens a resistência para dançar e brincar;
Yewá, com seus olhos de estrela, vigia atenta pela preservação da vida de todos, e observa as mulheres virgens.
Nanã apela pelos idosos brincalhões, pelas alas das baianas e pelas velhas-guardas;
Yemanjá libera os “oris” para a plena sensação “de ser livre”;
E Oxalá pede para que a festa aconteça em harmonia, com sorrisos, abraços, tolerância e paz.

Contam os mais velhos que Olodumàre chora diariamente pela imperfeição de sua criação. Mas, nestes dias, Ele, o Criador sorri ao ver seus filhos alcançarem a perfeição: a máxima alegria!

Assim, toda a Corte de Olodumàre aplaude a Festa da irreverência e da felicidade.


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