A satisfação do ego


Texto do livro: Conexão Saúde
Autor: Deepak Chopra


Por mais incrível que isso possa parecer, tenho vários pacientes que extraem prazer da doença. Na verdade, alguns ficam mais felizes quando estão doentes.

Um deles, uma senhora que padece de colite ulcerativa e quase sempre tem crises perigosíssimas, vive em meu consultório se queixando de tudo o que não pode fazer e dizendo que seu único desejo é morrer.

No entanto, é nas crises agudas que ela se mostra tranqüila, relaxada, e às vezes, exasperantemente despreocupada. Nessas horas, apesar de o intestino estar sagrando muito e de estar anêmica, ela afirma que se sente absolutamente bem. A despeito dos protestos da família e de minhas súplicas, recusa-se a ir para o hospital e sustenta que não há motivo para preocupações.

Em seu estado "normal" vive tentando chamar a atenção, 
e quando a doença piora ela se satisfaz com o fato de receber atenção automaticamente. Toda a doença gira em torno da necessidade que seu ego tem de se sentir importante de conseguir a atenção que merece.

A satisfação do ego é uma necessidade humana básica, e sua ausência leva ao desequilíbrio fisiológico e emocional - às vezes, à insanidade.

Minha paciente ficava doente para satisfazer o ego. Mas o modo arriscado que ela escolheu para se satisfazer sobrecarregava demais o corpo.

Esse comportamento é o oposto daquele que Maslow descreveu ao dizer que pessoas realmente saudáveis sabem intuitivamente o que é bom para elas.

Como médico, todo dia assisto à melhora ou piora do estado de meus pacientes de acordo com as necessidades do ego de cada um. Em outras palavras, o surgimento da doença está intimamente relacionado com os fatores de insatisfação do ego.

E que fatores são esses? Coisas simples como incapacidade de se sentir importante, baixa auto-estima, falta de estímulo e de amor.

O ego se alimenta de apreço, encorajamento e amor. 
É mais fácil encarar a carência de vitaminas e minerais do que as carências do ego, que são muito mais importantes.

A não-realização de qualquer necessidade humana básica leva a conseqüências desastrosas, ao enfraquecimento e à doença. Basta olhar em volta para perceber que os indivíduos saudáveis e felizes parecem ser sempre muito amados e valorizados.

Mas nossa sociedade nos ensina que não é bom valorizar as pessoas para que elas não se sintam superiores nem se tornem presunçosas.

Os psicólogos discordam desse ponto de vista. Elogios e afeto produzem a saudável sensação interior de valorização. Sem ela, o ego oscila entre sentimentos exagerados de inutilidade e fantasias igualmente exageradas em torno da própria importância.

As pessoas infelizes e doentes parecem nunca conseguir a atenção que desejam.

Em minha opinião, a solução desse problema é simples. A melhor técnica de satisfação do ego já foi sintetizada numa frase bem conhecida: "Faça pelos outros o que espera que eles façam por você".

Se quer elogios, elogie os outros. Se não se sente devidamente valorizado, valorize mais os que estão à sua volta. Se quer amor, seja mais amoroso. Se quer ser importante, faça os outros se sentirem mais importantes, mas seja sincero.

Não há nenhuma novidade nessa técnica. Todas as culturas têm alguma versão para o provérbio "Quem planta, colhe".

O problema é que existe grande diferença entre saber e agir. A escola do "pensamento positivo" surgiu para que as pessoas aprendam a dar para receber. O pensamento positivo funciona com facilidade para algumas pessoas.

Mas a mente é muito mais profunda que pensamentos superficiais. Na verdade, ela já está colhendo o que planta.

Todo pensamento é automaticamente traduzido em um modelo fisiológico. Se cooperação entre corpo e mente for harmoniosa, a valorização da vida será instantânea. A satisfação do ego surgirá como um dos dons naturais da saúde.

Mas a maioria das pessoas encontra obstáculos reais à satisfação do ego: dúvidas, culpa, negação do prazer e preocupação consigo mesmo. Esse é o conteúdo da má consciência. Sob seu domínio, o ego só consegue se satisfazer por vias tortuosas, ou seja, a neurose e a doença.

Para que o caminho certo apareça é preciso o autoconhecimento.

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